quarta-feira, 29 de julho de 2009

Danilo Gentili do "CQC" será investigado por por piada no Twitter



O humorista Danilo Gentili, do programa "CQC" da TV Band, será investigado pelo Ministério Público de São Paulo por possível crime de racismo. De acordo com a coluna Zapping, assinada por Alberto Pereira Jr., ele publicou uma piada em seu perfil do Twitter na noite de sábado, 25, que gerou repercussão. Gentilli escreveu: "Agora no TeleCine KingKong, um macaco que depois q vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
Minutos depois, ele voltou a escrever no perfil tentando justificar a brincadeira: "Alguém pode me dar uma explicação razoável porque posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca um negro de macaco?". Não satisfeito, Gentili, continuou se justificando: "Reparem: na piada do KingKong nao disse a cor do jogador. Disse que loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeca de vocês que tem preconceito, hein".
No domingo, Gentili voltou ao Twitter para postar uma foto e comentou: "Obrigado, pessoal. Vocês conseguiram me prender igual a um macaco por denúncias de racismo."
Ainda indignado com tudo o que está acontecendo, Gentili preferiu usar um espaço maior, além dos 140 caracteres oferecidos pelo Twitter, para continuar o assunto. Em seu blog, o repórter do CQC falou sobre a diferença de raças para explicar o seu ponto de vista sobre o assunto.
"Se você me disser que é da raça negra preciso dizer que você tambem é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra. Pois se todas raças são iguais então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?", diz o humorista em seu blog. Leia texto na íntegra.
Segundo a coluna, Gentili afirmou que pediria perdão a qualquer pessoa que se ofendeu sobre qualquer assunto que ele já tenha falado, mas declarou que não apagará nenhuma mensagem no seu Twitter, já que foi o que realmente ele disse.

Para advogada, cor não impede acesso à universidade


No dia 20 de julho a advogada Roberta Fragoso Menezes Kaufmann protocolou uma ação de mais de 600 páginas pedindo que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspenda imediatamente a política de cotas para estudantes negros e indígenas da Universidade de Brasília (UnB). A ação foi encampada pelo partido Democratas.
Roberta Kaufmann quer a inconstitucionalidade do sistema de cotas e avalia que é apenas “uma política simbólica”, que beneficia a classe média negra e não cria mais vagas na universidade pública. A advogada diz ser a favor de cotas sociais, mas não raciais e também deixa claro ser contra o racismo. “Práticas de racismo não podem ser toleradas. Devia ser crime hediondo. Uma pessoa racista deve ser banida socialmente e eticamente.”
Mestre em direito pela UnB – com a dissertação Ações Afirmativas à Brasileira: Necessidade ou Mito? Uma Análise Histórico-Jurídico-Comparativa do Negro nos Estados Unidos da América e no Brasil –, a advogada teme a importação de políticas afirmativas e avalia que é muito difícil separar, no Brasil, quem é negro e quem é branco. Para ela, a cultura negra é central na identidade brasileira: “os símbolos nacionais são relacionados à cultura negra”.

Agência Brasil: Que motivos a levaram a entrar com uma ação contra as cotas no Supremo Tribunal Federal?
Roberta Kaufmann: Essa é uma questão que foi objeto de estudo de mestrado que defendi na UnB. Para mim essa é uma questão crucial na sociedade brasileira, ela vem sendo tratada de maneira precipitada. Tanto o racismo quanto a ignorância são extremamente prejudicais para o trato da matéria. Nesse sentido, eu me apresentei voluntariamente para ser advogada do Democratas porque fiquei sabendo que o partido também era contrário a essa política de cotas raciais. Então me apresentei ao senador Demóstenes Torres (DEM-GO), expliquei o que foi a minha dissertação e perguntei se tinha interesse. O partido político é um dos legitimados no STF [Artigo nº 103 da Constituição]. Ele aceitou a idéia e juntos nós estamos agora entrando com essa Arguição de Preceito Fundamental [ADPF] para tentar acabar com as cotas raciais no Brasil.
ABr: Sua expectativa é que seja revista a aprovação do último vestibular e das matrículas que foram feitas recentemente?
Roberta: A questão é mais ampla. O problema é o seguinte: o STF até hoje não se manifestou quanto à questão das cotas raciais apesar de já existirem mais de 80 universidades com sistemas de acesso privilegiado. Havia antes uma Ação Direta de Inconstitucionalidade [Adin nº 31/1997] que tratava das cotas raciais lá no Rio de Janeiro. No entanto essa Adin perdeu seu objeto porque a lei foi revogada. Não temos as cotas raciais sendo discutidas na Corte constitucional. Não é possível que um debate tão importante para o país não esteja sendo realizado pelo tribunal constitucional. O que vemos hoje são decisões de juízes de 1º grau e de desembargadores de 2º grau, tanto nos tribunais regionais federais quanto nos tribunais de justiças, decisões discrepantes sobre o assunto. À medida que a discussão chegar ao Supremo será pacificada.
ABr: A legislação brasileira prevê há mais tempo cotas para portadores de deficiência e para a participação das mulheres como candidatas nas eleições. Por que a cota racial é que gera polêmica?
Roberta: Isso são ações afirmativas para integrar minorias. O que é minoria depende do contexto histórico, político, social de cada país. Jamais uma pessoa que tenha um mínimo de esclarecimento acerca do direito poderia ser contrário a uma política de ações afirmativas. Nós adotamos no Brasil um modelo de Estado social que é um modelo que se preocupa com as minorias e quer integrá-las à sociedade. Uma pessoa que é cega não pode concorrer em igualdade de condições com uma pessoa que tenha visão perfeita. Uma pessoa paraplégica, um portador de uma deficiência mental ou deficiência física não pode jamais ser considerado igual. Infelizmente, eles tiveram algum tipo de deficiência ao longo da vida e isso faz com que o Estado aja para suprir essa deficiência. Ser a favor de políticas de ações afirmativas como gênero não significa ser a favor de qualquer política de ação afirmativa para qualquer minoria. Recentemente, analisei uma pesquisa que diz que 87% dos estudantes brasileiros têm preconceito contra os homossexuais. Homossexuais são uma minoria. Isso quer dizer que necessariamente haverá uma política de cotas para integração dos homossexuais nas universidades? Não. O fato de haver preconceito não impede que eles por mérito consigam ter vagas nas universidades. O problema não é apenas saber se existe preconceito ou discriminação, a questão é saber se este preconceito ou essa discriminação atuam de maneira que essas minorias não consigam atingir vagas. No Brasil, o negro não consegue ter acesso à universidade por que ele é negro ou por que ele é pobre? Por que ele não consegue a qualificação necessária para se preparar? Afirmamos a necessidade de ações afirmativas, no entanto, acreditamos que o problema da integração do negro no Brasil não decorre exclusivamente por conta da cor, apesar de reconhecer o problema de discriminação e preconceito na sociedade brasileira. Esses não atuam de maneira a impedir o acesso do negro à universidade.
ABr: Na sua opinião, o critério socioeconômico seria mais objetivo e eficiente?
Roberta: A escravidão trouxe uma consequência perversa: o negro é atrelado ao pobre. Setenta por cento dos pobres são negros. Na medida em que se faz políticas de assistência para os pobres, os negros são atingidos, assim se ataca a verdadeira causa do problema , que é a pobreza e não a negritude, a cor da pele, sem o ônus de racializar o país. Se nós formos analisar as políticas de direito comparado que foram inseridas a partir de um Estado racializado - como o apartheid da África do Sul, como o estado segregacionista dos Estados Unidos e a política implementada em Ruanda -, todas essas políticas que levaram a raça como critério de definir a distribuição de direitos foram políticas que mais distribuíram ódio entre as pessoas do que efetivamente integraram. Eu consigo perceber isso claramente na UnB. Quando eu abro a boca para dizer que sou contra a cota racial, eu percebo o ódio expresso das pessoas que muitas vezes sequer me conhecem ou analisaram o que eu escrevi e vem dizer que o meu discurso é racista. Para nós nos integramos temos que nos assumir como brasileiros e não apenas brasileiro branco, brasileiro negro, brasileiro pardo. Mesmo porque não há um critério claro para definir quem é branco e quem é negro no Brasil.
ABr: Mas essa política fez com que os Estados Unidos tenham hoje um presidente negro. A política foi eficiente, não?
Roberta: De jeito nenhum. Martin Luther King sempre foi contrário à política de cotas. Ele queria a integração dos pobres. A Marcha para Washington que ele comandou com centena de milhares de pessoas não era marcha de negros era uma marcha de pobres. Ele queria a integração dos pobres. Barack Obama em nenhum momento levou em conta o discurso racial. Em nenhum momento ele abriu a boca para dizer 'eu sou um negro competente'; ele disse 'eu sou competente'. Já dizia o célebre discurso de Martin Luther King: 'vai chegar o dia que os descendentes de escravo e os descendentes de senhores de escravo conseguirão sentar-se na mesa da fraternidade juntos e servirem-se da mesma refeição sem ter que questionar pela cor da sua pele, mas tão somente pelas qualidades do seu caráter'. Barack Obama é um gênio pelo caráter e não pela cor da pele.

Racismo e baixa autoestima levam cotistas a se esconder, diz pesquisadora


A pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Ana Paula Meira afirma que estudantes cotistas, mesmo depois de passar em concorridos vestibulares, ainda se escondem por causa de baixa autoestima e do racismo. “O racismo coloca as pessoas sempre à margem. Você duvida que possa estar fazendo o que é certo, que pode ser bonita e inteligente”, afirma Ana Paula. “É dificílimo achar um cotista, as pessoas se escondem”, descreve a mestranda em Política Pública e Gestão de Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Apesar de ter conseguido falar com quase uma centena de alunos, Ana Paula avalia que os cotistas “tem medo dizer” e temem reações que possam causar ao assumir que são cotistas. “Para não se prejudicarem, eles se esquivam”. O comportamento, na avaliação da pesquisadora que deve defender sua dissertação até o fim do ano, guarda relação com a “baixíssima” autoestima dos estudantes e com o racismo.

A pesquisa de Ana Paula Meira tenta entender “o fenômeno” e traz levantamento de trajetórias e histórico escolar de cada entrevistado, fazendo recorte por classe, gênero e identidade. Segundo ela, a UnB tem “mudado lentamente” com a política afirmativa. “Existe uma presença negra que não é só a presença do estudante da embaixada africana.”

Para a pesquisadora, no entanto, há setores “elitizados” na universidade que são contra a política de cotas. A oposição tem a ver com disputas simbólicas e de mercado de trabalho. “A vaga na UnB no imaginário brasilense é super disputada. Estudar lá, especialmente em certos cursos, significa ter status.”

Ana Paula Meira critica a iniciativa do partido Democratas que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o sistema de cotas. Ela classifica a iniciativa de “reacionária” e refuta o argumento de que o recorte pela renda tornaria a política afirmativa mais justa e eficaz. “A maioria dos negros é pobre, mas o que está em voga não é só o econômico. O que socialmente está torto é o racismo”, defende.

terça-feira, 28 de julho de 2009

MPF pede proteção policial para quilombolas em Mato Grosso



O procurador da República em Mato Grosso Gustavo Nogami determinou às polícias Civil, Militar e Federal a adoção de medidas para garantir a segurança dos remanescentes de comunidades quilombolas das regiões conhecidas como Vãozinho e Voltinha, localizadas entre os municípios de Barra do Bugres e Porto Estrela. Nogami fixou um prazo de cinco dias para que os órgãos informem as providências adotadas.

Representantes do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e da Fundação Palmares relataram ao Ministério Público Federal (MPF) ameaças e uso de violência contra integrantes das comunidades quilombolas. Os denunciantes atribuem as agressões a pessoas ligadas a fazendeiros da região, que fazem uso de armas de fogo.

Além do pedido de proteção policial aos quilombolas, o procurador Nogami também requisitou informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a respeito do andamento do processo de reconhecimento e demarcação da área das comunidades Vãozinho e Voltinha como remanescente de quilombo.

sábado, 25 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Onde Está o Negro na TV Pública


Apresentada durante painel sobre Programação e Modelos de Negócio, no
Primeiro Fórum Nacional de TV´s Públicas, a Pesquisa Onde Está o Negro na TV Pública, realizada pela Fundação Cultural Palmares/MinC chamou a
atenção dos participantes para a invisibilidade negro na TV pública
brasileira.

Apresentada durante painel sobre Programação e Modelos de Negócio, no Primeiro Fórum Nacional de TV´s Públicas, a Pesquisa Onde Está o Negro na TV Pública, realizada pela Fundação Cultural Palmares/MinC chamou a atenção dos articipantes para a invisibilidade do negro na TV pública brasileira. Em sua intervenção, o cineasta e consultor da Fundação Cultural Palmares, Joel Zito Araújo, destacou que o novo modelo de TV a ser gestado deve garantir a inclusão do negro e do índio em sua programação, bem como no corpo de apresentadores e jornalistas.

Os números levantados pela pesquisa da FCP comprovaram que após analisar a programação de três emissoras públicas de TV ( TV Cultura, de São Paulo, Rede Brasil, do Rio de Janeiro e TV Nacional/Radiobras, de Brasília) durante o período de 8 a 15 de abril deste ano, 0,9% da programação exibida pelas emissoras foram dirigidos à cultura afro-brasileira. O mesmo estudo aponta que menos de 10% dos apresentadores destes canais são negros e 5,5% dos jornalistas que atuam nas TVs públicas são de origem afro-descendente.

"Dados que confirmam o racismo e a exclusão da população negra e índia da programação televisiva nacional", indica o consultor. Joel Zito Araújo também chamou atenção para a necessidade de se vencer o racismo na mídia como um desafio para construir uma televisão democrática e com diversidade racial. "Se não houver por parte daqueles que financiam o interesse em promover a difusão da cultura negra e indígena na televisão, a tendência é continuarmos vendo uma televisão pública feita pela classe média branca para este mesmo grupo", salientou Joel Zito, bastante aplaudido pelas dezenas de participantes que acompanham as plenárias em Brasília.


Exclusão também na América Latina

Respondendo as observações apontadas por Joel Zito Araújo, o secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, disse que a missão de promover a igualdade racial na programação das tevês públicas não é somente
um dever de seus dirigentes, mas uma obrigação por parte de todo o cidadão esclarecido. Senna cita que o racismo não é só presente na sociedade brasileira, mas também é cotidiano nos países latinoamericanos. Como exemplo, citou a sua participação nas reuniões de composição de programação da TV SUR, emissora de tevê do sistema Radiobras que integra o Brasil e os países latinos a partir de Brasília. "Digo que 98% da equipe que trabalhou na implantação da tevê era branca. Vimos apenas três negros e nenhum índio. Temos que ter coragem para resolver e solucionar a invisibilidade do negro na TV pública e na sociedade", conclamou o secretário.

Beth Carmona, presidente da TVE Brasil e relatora do painel sobre Programação e Modelos de Negócio disse que já há um esforço por parte das emissoras públicas em reverter este quadro de exclusão do negro. "Há um esforço das emissoras para garantir a inclusão de profissionais negros em suas equipes de trabalho", explicou, lembrando que o tema merece uma maior discussão.


Negros e índios fora da programação

O apoio a pesquisa também veio de inúmeros participantes. O diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), Pola Ribeiro constata que o racismo é presente no cotidiano da programação das tevês públicas.
Segundo ele, esta situação também é bastante presente na programação da tv pública na Bahia, estado conhecido pela predominância negra em sua população. Pola conta que em recente levantamento feito junto aos quadros funcionais da TV Educativa da Bahia (ligada ao IRDEB) foi constatada a não-existência de negros nas áreas de produção, reportagem e apresentação de programas jornalísticos. A partir deste levantamento, o diretor do IRDEB indica que a instituição está começando a implantar uma nova análise e construção de sua programação, pautando a cultura afro e indígena em suas
produções. "Este desafio é realmente nosso, porque temos o dever de construir uma sociedade plural", defendeu Pola Ribeiro.