segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Quando a luta comum faz toda a diferença


Há pouco mais de um ano, um movimento vem ajudando a transformar a vida de crianças e adolescentes num dos bairros mais carentes e marginalizados de Cuiabá. É o movimento Favelativa, formado por moradores do Jardim Vitória que, com muito amor e batalha diários, procuram chamar a atenção de jovens para cultura, arte, esportes, impedindo, muitas vezes, que eles fiquem afundados com a criminalidade e as drogas.

Um dos grandes fundadores do grupo é o Dj Taba, de 31 anos, que já tem consolidada uma história de luta, iniciada com o movimento Hip Hop. Por meio de sua própria história, dos aprendizados que teve com as dificuldades que já enfrentou, ele abraçou a causa e diariamente fala com os moradores do Jardim Vitória e de outros bairros. Com sua música e militância, procura apontar caminhos melhores para uma juventude que seja mais viva e mais ativa em boas construções.

O Favelativa promove oficinas culturais, gincanas e incentivo, entre outros trabalhos. As oficinas sempre buscam, com debates, a politização dos jovens. Uma atividade muito boa realizada pelo grupo foi a “Gincana do Saber”. Com duração de um mês, foram realizadas oficinas de produção textual, rodas de leitura e o concurso de redação. Érica Souza Sampaio, de 15 anos, estudante da Escola Municipal de Ensino Básico Dejany Ribeiro Campos, da 6ª Série, foi a vencedora com o texto “A Minha Estória” (veja texto na página 12).

Outra grande realização é o ‘Carrinho do Saber’, que leva livros pelas ruas e às escolas, despertando a curiosidade dos estudantes. É um carrinho, mesmo. De mão, uma verdadeira minibiblioteca ambulante, percorrendo as ruas do bairro e convidando as crianças e adolescentes à leitura. O grupo também já realizou o dia “Cultura Ativa”, de shows, oficinas, palestras e debates.

Segundo Taba, a participação da comunidade nos eventos é boa e o Favelativa tem credibilidade no Jardim Vitória porque as pessoas realmente conhecem quem trabalha no grupo. Não são pessoas que vêm de fora impor um evento, mas sim moradores do bairro. “Ao mesmo tempo que estou no palco, estou limpando a calçada”, comenta o Dj.

Dj Taba lamenta que não existam espaços para lazer no bairro Jardim Vitória. “O Jardim Vitória não tem uma praça, não tem um espaço de lazer. Não tem uma praça!”, repete o artista, indignado. Taba diz que é preciso ter espaços culturais e de esporte para tirar a juventude do ócio, o que contribui para que eles entrem na criminalidade.

Dafne Spolti/ Da Reportagem

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

sábado, 15 de agosto de 2009

Carta do Editor


Como anunciei na edição anterior, volto ao assunto racismo e ditadura da estética. Semana passada, participei do ciclo de debate “Mídia em preto e branco”, organizado pelo Grupo de União e Consciência Negra, o Grucon, o mais tradicional e atuante movimento negro de Mato Grosso. Pertenço à Unegro, União dos Negros pela Igualdade, mas não posso deixar de reconhecer a histórica luta do Grucon contra o preconceito e em defesa dos negros mato-grossenses. A organização do evento deve ser elogiada. José Arimathea, presidente atual do Grucon, é um militante ativo e consciente, com larga folha de serviços públicos prestados, inclusive institucionalmente. Sua filha, a jornalista Vera Lícia, deu um show de organização. Outros palestrantes marcaram posições interessantes sobre esse universo do negro sempre relegado na mídia local e nacional.

De minha parte fiz questão de abordar o conteúdo de classe que postura da mídia possui, que tem donos e, em geral, são membros de classes da velha elite herdeira dos escravocratas e o que há de mais atrasado na burguesia nacional. O negro, inserido no proletariado é o próprio proletariado do proletariado. Sofre a dupla discriminação e exploração. Basta ver os números: 90% nas prisões, 90% nas favelas, 90% fora das universidades, menos de 90% dos salários do brancos para a mesma função, 90% dos desdentados, 90% dos portadores de endemias...

Gosto de apresentar números, pois eles mostram a realidade. Ainda que alguns são expostos a grosso modo, não estão longe do real. O problema é que, ao lado das estatísticas, há indicadores destorcidos, há análises conduzidas e eufemismos nas conclusões. Por exemplo, pouco se considera que a maioria da população brasileira é composta de afro-descendentes. Cuiabá, por exemplo, beira os 60%. Em Salvador (BA), 80%. Mas está lá o tal do “pardo” para retirar a verdadeira cor da maioria. Há quem goste de ser “pardo”, o que não quer dizer raça nenhuma.

joaonegrao@correiodematogrosso.com.br

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Negros


Wangari Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2004.
Os termos negro ou negróide são utilizados na classificação de grupos humano adotada em antropologia, correspondendo a uma raça. A noção de raça humana, do ponto de vista da Biologia, é atualmente muito contestada, no entanto no âmbito sociológico considera-se importante o estudo das características fenotípicas humanas e sua interpretação do ponto de vista social, sendo os grupos daí derivados, a grosso modo chamados de grupos raciais.
O termo "negro" pode, em sentido estrito, designar uma pessoa com fenótipos majoritariamente típicos dos povos de origem africana: pigmentação da pele escura, cabelo crespo, etc. Em sentido amplo, tem servido para descrever todos os descendentes de africanos, mesmo os miscigenados, desde que aparentem um mínimo de características físicas negras (mulatos, cafuzos, pardos, etc). Esta tem sido a posição do Movimento Negro no Brasil, e também a posição adotada pelo IBGE. Para tal, estes atualmente usam uma classificação segundo a qual a palavra preto é usada para identificar os que possuem aparência tipicamente negra, e o termo pardo usado para os que possuam aparência miscigenada.
No Brasil, pessoas com ascendência africana, mas que não possuam características fenotípicas deste grupo racial não são contabilizadas.
História do uso do termo
A palavra "preto" aparece no século X e designa uma pessoa de pele escura, mais particularmente originária da África subsariana. A palavra "negro" passa a ser adotada no século XV com a escravização de africanos por portugueses. Os espanhóis, porém, foram os primeiros europeus a usar "negros" como escravos na América. Por conseguinte, um dos primitivos sentidos da palavra negro era "escravo". Por este motivo, a palavra é considerada ofensiva em diversos países africanos e da Diáspora, como no Senegal e nos Estados Unidos, onde é empregada a palavra black que literalmente corresponde à palavra preto, ao invés de niger (negro).
Os portugueses são o segundo povo europeu a traficar escravos negros para as americas. Estes adotam a palavra negro designando primeiro, na sua língua, todos os escravos (por conseguinte também os escravos índios, chamados de "negros da terra"). Pouco a pouco, os portugueses passam a designar os africanos cada vez mais apenas com a palavra "pretos", enquanto os índios foram tratados de "selvagens" até 1970 na imprensa brasileira.[carece de fontes?]
Certos sociólogos brasileiros, como Clóvis Moura, consideram o termo "negro" o mais adequado para classificar o grupo racial ao qual a pessoa pertence. Argumentam ainda que existe uma grande resistência da sociedade brasileira na utilização do termo citado, em razão deste ser considerado, erroneamente, uma palavra preconceituosa. Para estes sociólogos, a palavra "negro" não possui conotação pejorativa, e que o receio em utilizar o termo dito correto se deve ao fato da sociedade brasileira, ao contrário do que pensa o senso comum, possuir uma forte carga racista em relação ao negro, oculta pelo mito da democracias raciais.
Em Angola é utilizada com o mesmo sentido, e com idêntica gama e subjectividade de conotações. Um indivíduo de raça negra, pode dizer-se orgulhoso de ser negro e sentir-se ofendido por ser chamado de preto[carece de fontes?]. É usada com muita frequência a palavra em gíria bumbo com idêntico significado. Esta, da mesma forma, pode ser tomada como ofensiva ou ser perfeitamente inócua e usada entre amigos.
Preconceito
O histórico de preconceito contra os negros é grande e decorre principalmente de sua condição de escravos, quando foram trazidos a países da América como o Brasil, os Estados Unidos e alguns países do Caribe. Durante o regime do apartheid, os negros eram postos à margem na África do Sul, não podendo ser considerados cidadãos de pleno direito. Algo semelhante acontecia também nos Estados Unidos, onde ainda hoje a miscigenação não é oficialmente tomada em consideração. Embora os negros já sejam considerados cidadãos comuns nesses países, ainda hoje vivem em condições de vida relativamente menos favorecidas do que as pessoas em geral. Hoje a palavra negro tem um sentido racista em numerosas línguas europeias (inglês, francês, alemão, holandês) devido à escravidão e a colonização[carece de fontes?].
Segundo estudos realizados pelo sociólogo David Willians, do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Michigan, os Estados Unidos, para cada dólar pago a um branco, um negro recebe o equivalente a 40% desse valor. De acordo com os Indicadores Sócio-econômicos do Censo norte-americano sobre a década de 1990, 7% da população branca vivia na pobreza, contra 32,4% da negra.
Em escala menor, existe também discriminação de negros na Europa, devido à recente migração de africanos para países como a França e a Itália.

Os negros no Brasil

De acordo com o PNAD de 2006, verificou-se que 6,9% da população brasileira se declara negra, enquanto 42,6% se declaram como "pardos" (como os mulatos, caboclos e cafuzos - pessoas com ancestralidade mesclada entre africanos, europeus e indígenas, exceto os caboclos, cuja identidade não está ligada a ancestralidade africana). Devido ao alto grau de miscigenação da população brasileira, há pouca precisão em identificar quem realmente pode ser chamado de "negro", prevalecendo o critério da auto-declaração. Para fins políticos do Movimento Negro, entretanto, consideram-se "negros" todos aqueles que têm alguma ancestralidade africana, mesmo que sejam, também, descendentes de europeus ou de índios.
A região brasileira com o maior número proporcional de negros na população é a Região nordeste, sendo o Estado da Bahia aquele com a maior proporção de negros na população, com 14,4% de pretos e 64,4% de pardos. O Estado de Santa Catarina é o que tem a mais baixa proporção de negros e pardos no Brasil, que, somados, são 11,7% da população.
Observa-se que os negros vivem numa condição de vida bem menos favorecida em relação à daqueles que se declaram de raça "branca" (européia). Isto é ocasionado especialmente pelo fator histórico da escravidão, que, ao ser abolida, não deu qualquer tipo de proteção especial aos negros, que permaneceram na pobreza.
Ainda assim, muitos argumentam que ainda há forte preconceito dentro da sociedade brasileira, o que seria uma forma a mais de dificultar a inserção do negro na sociedade. O último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), "A Hora da Igualdade no Trabalho", divulgado no dia 12 de maio, mostra que, apesar de avanços em alguns indicadores sociais, a situação de desemprego persiste na população negra brasileira: a renda mensal de um trabalhador negro é 50% inferior a do branco.

Negros em outros países

África

Todos os países da Africa Subsaariana têm população majoritariamente negra. Alguns países como a Namíbia e a África do Sul apresentam uma diversidade étnica maior, devido à colonização por europeus vindos principalmente da Alemanha, Reino Unido e Países Baixos. Na África do Sul, apesar de serem maioria étnica, tiveram vários direitos suprimidos pelos africâneres (sul-africanos de origem européia), que dominavam politicamente - movimento conhecido como apartheid. Na região do Maghreb os negros são minoria, frente à maioria de origem semítica.
Américas


Naomi Campbell, top model inglesa.
Existe uma significativa população negra concentrada nos Estados Unidos. O censo estadunidense considera como "blacks" ou "afro-americans" - o que equivaleria a negro, no contexto brasileiro - indivíduos com alguma ascendência africana, mesmo que tenha também ascendência européia, asiática ou indígena, com exceção dos miscigenados de origem latina, que constituem um grupo racial à parte. No Caribe, a maioria da população é negra ou mestiça. Outros países com importantes minorias de negros, além do Brasil, são a Colômbia, Venezuela, o Peru, o Equador e o Uruguai.
Europa
Nas últimas décadas, a população negra na Europa tem crescido consideravelmente, especialmente em países como a França, Países Baixos e o Reino Unido. Isso ocorre em função da migração de povos africanos e caribenhos colonizados por franceses, neerlandeses e britânicos, em geral buscando melhores condições de vida. Outros países como Portugal, Suécia, Espanha, Itália e Alemanha também têm recebido ondas imigratórias negras.

Ásia e Oceania

Os povos de origem dravídica, nativos do sul da Índia, têm a pele escura, entretanto, possuem o fenótipo (antropometria) distinto dos negros africanos que, entre si, possuem já numerosos fenótipos distintos, relatados em abundante literatura etnológica dos séculos XIX e XX.
O mesmo ocorre com os povos melanésios e os aborigenes australianos, que embora sejam comumente chamados de negros, também eram classificados num grupo racial à parte conhecido como "Australóides".

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Morre Naomi Sims, a primeira top model negra dos Estados Unidos


A primeira top model negra dos Estados Unidos, Naomi Sims, faleceu de câncer aos 61 anos, anunciou nesta terça-feira (4) a imprensa local.
Oriunda do Mississippi, onde nasceu em 1948, Sims se mudou posteriormente para Nova York, onde começou a desfilar e foi a primeira negra a aparecer na capa da "Fashion of the Times", o suplemento dedicado à moda do jornal "The New York Times", em 1967.
Um ano mais tarde, foi capa da revista feminina "Ladies Home Journal" e, em 1969, alcançou fama mundial com uma foto na revista "Life", ao ser declarada a Modelo do Ano"Graças a suas iniciativas pessoais e pioneiras, conseguiu criar um verdadeiro lugar para as mulheres negras na indústria das modelos", afirmou Marcellous Jones, editora da "The Fashion Insider".


France Presse

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O racismo que ninguém vê


Na última quinta-feira, dia 30 de julho, me encantou não só a negritude da noite fresquinha do suave inverno cuiabano. Aquela noite preta! Boa para tudo que a mente permitir. Atraiu-me, porém, o debate convocado por militantes pretos que se juntaram na sede do Grupo de Consciência Negra, na Capital, para tratar dos pecados que a mídia brasileira comete contra irmãos afrodescendentes. E me parece que a ação afirmativa mais urgente é toda aquela que consolida a idéia de que o racismo no Brasil existe – e creio que este artigo ajuda a cumprir esse papel. E existe, quer ver?
Eu fiz uma matéria, há alguns anos, sobre o racismo em Cuiabá. Não lembro mais o nome dos entrevistados, mas são pessoas comuns, que a gente vai achando, ao perguntar na redação se alguém conhece quem tenha sofrido na pele o drama do racismo.
Como o racismo existe, achei rápido um carinha.
Acabou a cerveja no churrasco e ele, tido pelos amigos como amável e querido, foi o único que se dispôs, de imediato, a ir a um grande supermercado da Capital buscar mais. Num churrasco, as pessoas se vestem de terno e gravata, certo? Não, claro que não. Ele estava de bermuda e camiseta, chinelo de dedo. Saiu assim mesmo, claro! Entrou correndo no supermercado, tinha pressa de voltar para a festa. Mas foi parado. O segurança queria saber o porquê da pressa. Quem nunca entrou com pressa em um supermercado? Ele explicou, mas falava e não era ouvido. Pelo menos meia hora, foi o tempo que o rapaz gastou para se desvencilhar do preconceito.
Como o racismo existe, achei também uma moça. Filha de um médico da Capital, homem bem sucedido nos moldes que o capitalismo preconiza – ou seja, alto salário, casa, carro, viagens. O que é raro para um negro. Ela conta que entrou em uma loja – feita para bem sucedidos de Cuiabá, como o pai dela e, por conseqüência, ela – mas percebeu que ninguém vinha atendê-la. E quando veio, a pergunta foi cortante: “Essa roupa custa caro!” Insinuação de que ela não poderia pagar.
A coisa vai piorando.
E como o racismo, de fato, existe, achei ainda um professor, de 40 anos, que coleciona batidas policiais. É preto, é, portanto, suspeito. Calado já está errado. Conta que, quando era adolescente, morava na periferia de uma cidade mineira, igual à maioria da população negra. Voltar para casa era um tormento toda noite que resolvia sair, porque poderia encontrar, logo ali à frente, uma viatura e, em segundos, de menino comum – em crise existencial típica da época, às voltas com seus hormônios - passava a suspeito encostado em algum muro.
O racismo existe e na reunião dos pretos no Grucon, chamada “A Mídia em Preto e Branco”, sob a noite preta, a Jaqueline Costa, membro do NEGRA/UNEMAT, convidada para falar sobre autoestima negra, trabalhou a música do rapper Gabriel, O pensador. Para mim a frase mais forte da música é a que diz “o racismo está dentro de você”. Reconhecendo isso, a coisa vai.
O produtor cultural Geraldo Kaunda, do Movimento de Inteligência Negra (MIN), africano, radicado no Brasil, não faz rodeios. O Brasil exporta a idéia falsa de que é um país das igualdades. Mas na praça da realidade açoita negros, à luz do dia - e pior - no silêncio do preconceito velado. Ele mesmo, na entrada de um shopping da Capital, foi abordado com truculência e venceu a sanha do segurança ao começar a falar inglês. “Ele veio correndo em minha direção assim que me viu e eu comecei a falar com ele em inglês e então ele pensou que eu fosse americano e me liberou”.
A ignorância mantém o preconceito.
Tem muita gente que não sabe que a África são muitas, países diversos, distintos, cheios de dialetos, além das línguas inglesa, francesa, portuguesa. Geraldo, ao tratar de racismo e mídia, mostrou um vídeo sobre a África que a mídia mostra, sempre morrendo de inanição, sucumbindo ao vírus HIV, em colapso social e a África que desconhecemos – forte, colorida, calorosa, de belas cidades floridas, universidades, o berço da humanidade por fim.
Um outro vídeo, desnudando a crueldade do racismo, silenciou o auditório e feriu feito aço de navalha – pelo menos eu chorei. Uma pesquisa indica que crianças pretas, ainda pequenas, já incorporam a idéia de que são de uma sub-raça. A pesquisa coloca meninas, de 3, 4 anos, diante de duas bonecas, tipo bebê, uma branca e uma preta. O pesquisador pergunta: qual dessas duas bonecas é bonita? Qual dessas duas é inteligente? Diante de perguntas afirmativas, as entrevistadas indicavam, com gordinhas mãozinhas de criança, para a boneca branca, de olhos claros. Mudando as perguntas: qual dessas duas é má? Qual dessas duas bonecas é feia? As entrevistadas apontavam para a preta. E pior: perguntadas com qual delas essas crianças se identificam, eis que vinha a indicação óbvia e frustrante.
O debate tocou sobre um dos assuntos mais espinhosos dentro do movimento negro, que são as cotas. Sobre isso, o jornalista João Negrão, convidado para falar sobre comunicação midiática e identidade, defendeu que a resposta aos resistentes é uma só: historicamente no país os ricos e brancos foram os privilegiados, é hora de dar chance aos negros que ajudaram a construir esse país. Disse ainda sobre experiências que utilizaram cotas e fomentaram o desenvolvimento.
Empregadas ainda são negras nas novelas, bandidos são negros, personagens de má índole idem, as muito sensuais também. O negro na televisão é uma lástima de ser humano. A professora Cândida Soares da Costa, que no debate falou sobre a comunidade negra na TV, alerta para o embranquecimento nas telas ainda vigente.
O racismo existe e o assunto deve ser pautado.
Gilberto Gil, Chico César, Malcom X, Zumbi, Chica da Silva, Martin Luther King, Rosa Parks e muitos outros e outras poderiam ser citados para encerrar por aqui, sem que esse assunto tenha fim, por enquanto. Cito o sul africano Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."


* Por Keka Werneck jornalista em Cuiabá