sábado, 15 de agosto de 2009
Carta do Editor
Como anunciei na edição anterior, volto ao assunto racismo e ditadura da estética. Semana passada, participei do ciclo de debate “Mídia em preto e branco”, organizado pelo Grupo de União e Consciência Negra, o Grucon, o mais tradicional e atuante movimento negro de Mato Grosso. Pertenço à Unegro, União dos Negros pela Igualdade, mas não posso deixar de reconhecer a histórica luta do Grucon contra o preconceito e em defesa dos negros mato-grossenses. A organização do evento deve ser elogiada. José Arimathea, presidente atual do Grucon, é um militante ativo e consciente, com larga folha de serviços públicos prestados, inclusive institucionalmente. Sua filha, a jornalista Vera Lícia, deu um show de organização. Outros palestrantes marcaram posições interessantes sobre esse universo do negro sempre relegado na mídia local e nacional.
De minha parte fiz questão de abordar o conteúdo de classe que postura da mídia possui, que tem donos e, em geral, são membros de classes da velha elite herdeira dos escravocratas e o que há de mais atrasado na burguesia nacional. O negro, inserido no proletariado é o próprio proletariado do proletariado. Sofre a dupla discriminação e exploração. Basta ver os números: 90% nas prisões, 90% nas favelas, 90% fora das universidades, menos de 90% dos salários do brancos para a mesma função, 90% dos desdentados, 90% dos portadores de endemias...
Gosto de apresentar números, pois eles mostram a realidade. Ainda que alguns são expostos a grosso modo, não estão longe do real. O problema é que, ao lado das estatísticas, há indicadores destorcidos, há análises conduzidas e eufemismos nas conclusões. Por exemplo, pouco se considera que a maioria da população brasileira é composta de afro-descendentes. Cuiabá, por exemplo, beira os 60%. Em Salvador (BA), 80%. Mas está lá o tal do “pardo” para retirar a verdadeira cor da maioria. Há quem goste de ser “pardo”, o que não quer dizer raça nenhuma.
joaonegrao@correiodematogrosso.com.br
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